From: "Luis K W" <luis_k_w@clix.pt>
Subject: SISNANDO DAVIDES (ou: a minha historia dava um filme)
Date: Thu, 23 Sep 2004 00:48:59 +0100
(Sesnandus, Sisnandus, Sisnande, Sizinando).
SISNANDO DAVIDES, atestado em 1064, + cerca 1092 (Mattoso, "Nobreza
Medieval...") era filho de um DAVID e de uma SUSANA.
Não me digam que os nomes dos pais dele não cheiram a JUDEU à légua!?!?
A Monarchia LuSitana (livro viii) também dedica algumas páginas ao "Conde e
Governador de Coimbra Dõ SiSnando".
Nasceu em Tentúgal, foi raptado por uma razia de mouros que o levaram (como
escravo?) para Sevilha, onde se converteu ao islão.
(Nota: no seu testamento - feito antes da batalha que, ao lado do Rei
Afonso VI, travou contra os Mouros em Badajoz - Sisnando deixa à igreja de
Mirlaos (hoje chamada Milreu; e o curioso é que antigamente isto queria
dizer "francês", "estrangeiro") "a metade da villa de Tentuguel, a qual diz
lhe viera por herança de seus paes"- in Mon. Lusitana).
Apesar da sua condição, fez uma carreira fulgurante chegando a VIZIR DE
SEVILHA! (José Hermano Saraiva "História Concisa de Portugal", 1978).
Por razões que desconheço - mas gostava de conhecer! - mudou de novo de
religião, convertendo-se (ou reconvertendo-se?) ao Cristianismo e pôs-se ao
serviço de Fernando Magno (1029-1065), rei de Leão e Castela.
Terá então proposto ao rei cristão que reconquistasse Coimbra, ocupada
pelos muçulmanos desde 997, a qual foi efectivamente tomada após longo
cerco (1064?). A cidade passou então a ser governada por SISNANDO, durante
quase 30 anos, até à sua morte em 1091 ou 1092.
Entretanto casou com LOBA NUNES «AUROVELIDO» (atest. 1071-1074), filha do
conde de Portucale (Nuno Mendes), o qual chefiou uma revolta contra o rei
Garcia da Galiza em 1071, tendo morrido durante uma batalha (em Pedroso,
entre Braga e o rio Cávado).
O Rei Afonso VI de Leão (herdeiro do Rei Garcia), concedeu uma parte dos
bens confiscados ao (falecido) Nuno Mendes, à sua filha Loba Nunes e seu
marido, aumentando assim o património governado por Sisnando.
Segundo Mattoso (Ricos Homens, Infanções..., p.34) e a Monarchia Lusitana
(citando uma venda que está no livro fidei de Braga), Sisnando terá doado
ou vendido em 1074 a um nobre de segunda categoria (Eita GoSendis) a maior
parte dos bens que tinham sido de Nuno Mendes (os quais acabaram por ser
doados à Sé de Braga em 1103), por não estar disposto a sofrer qualquer
oposição das famílias do Norte.
Afonso VI de Leão parece ter tido um bom conselheiro em Sisnando, e
recompensou-o por diversas vezes. Assim, vemos Sisnando (acompanhado por
Soeiro Mendes da Maia) a caminho de Toledo, nomeado pelo Rei governador
desta cidade (Ricos Homens, Infanções..., p. 52).
O governo de SISNANDO DAVIDES (ConSul Domni SiSnandi) em Coimbra deve ter
sido notável.
Repovoou as terras do interior (que se estendiam desde o Sul do Douro até
ao Sul de Coimbra, e desde o mar até Seia, Lousã e Soure), reconstruiu as
muralhas, restaurou a diocese para a qual nomeou um bispo (o qual esteve na
origem da lenda do "bispo negro" de Afonso Henriques, por ter sido nomeado
à revelia de Roma). Resistiu às incursões almorávidas nas fronteiras do
Mondego
(1085), utilizando na defesa apenas os recursos regionais e locais (Ricos
Homens, Infanções,..., p.181).
Segundo Mattoso, Sisnando seria um conciliador, com grande capacidade
política, pelo que não teria tido necessidade de um grande potencial bélico
para fazer frente às pequenas "taifas" que ameaçavam o seu condado.
Sisnando é considerado "moçárabe" por todos os autores que li, só que não
entendo porquê. Ele foi muito provavelmente um JUDEU que se converteu ao
ISLÃO e depois ao CRISTIANISMO.
A filha (única?) de Sisnando, Elvira Sisnandes (1087 e seguintes), casou
com Martim Moniz (atestado em 1092-1111) que herdou o governo de Coimbra. O
Fr. Ant. Brandão, na Monarchia Lusitana, diz não saber a origem deste
Martim Moniz, mas descobriu que ele tinha "muita fazenda em terras de
Arouca, para onde se retirou depois de deixar o cargo que se lhe cometera",
pelo que seria mais um dos de Ribadouro.
Este Martim Moniz, genro de Sisnando, também teve uma vida aventurosa
(afastado pelos francos - trazidos com Raimundo e Henrique - esteve com o
Cid Campeador em Valência pelos anos 1090's, depois, em 1111, com Afonso I
de Aragão contra a rainha D Urraca, e tentou regressar, sem sucesso, a
Coimbra em 1115). Infelizmente, desconhece-se se teve filhos.
E é isto o que mais me chateia: é que não consigo ligar a minha árvore
genealógica ao brilhante Sisnando!
Luís K W
Lisboa-Portugal
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